|
Paulo Celso Biasioli |
De uma coisa não abro
mão...sou saudosista!
Tenho orgulho em contar aos
netos coisas da minha infância e adolescência passadas deliciosamente na rua 2,
nos limites entre a Bandeirantes e a Prudente; na medida que a idade foi
subindo, a coragem veio chegando e novas descobertas. Praça de Santa Cruz,
depois Matriz, Carmo, Vila (as igrejas ainda eram nossas referências e ponto de
encontro das laias.)
Meu pai e tios, me levaram pela primeira vez
na Fonte (acho que era contra o SPFC), fiquei maravilhado com a grandeza do
lugar e a beleza das Tribunas de Honra, o campo cuidadosamente demarcado, acho
que tinha uns 6 anos e não entendia porque o jogo não era narrado no estádio!!!
Os alto-falantes eram mudos?
Aparecem os rádios portáteis e, ganhei um
Mitsubishi e, como todos da época, não deixava de ouvir a “Janela Esportiva” e
outros programas da PRD4 – Radio Cultura, a partir dos anos 60, a Voz da Araraquarense.
As transmissões e os programas
de esportes eram mágicos e se fixaram fortemente na minha cabeça. Sei que antes
dos meus tempos, grandes radialistas existiram, mas, por ordem da memória (ou o
que me resta dela) me lembro dos que ouvi e que me marcaram de lá até hoje:
Sidney Schiavon, Marcondes Machado, Ênio Rodrigues (inigualável), Wilson de
Freitas, Dorival Falconi, Denizar Alves, Nildson Leite do Amaral, Antônio
Carlos Araújo, José Conde (da nossa laia da Santa Cruz), Geraldo Marchezi,
Rudney Bruneti, Wilson Luís, Jose Carlos Cicarelli, José Roberto Fernandes (o
imortal), Adilson Telarolli, Wagner Beline, Tadeu e tantos outros que nos
traziam novidades da Ferrinha, para nosso delírio.
Me lembro que a Cultura
passava as gravações dos jogos da excursão da AFE na África e Europa e algumas
lojas da rua 2 ligavam alto-falantes para que todos ouvissem na voz do Ênio
Rodrigues.
Já adolescente e com a paixão
AFEana confirmada, começamos, eu e outros moleques, a frequentar a Fonte
Luminosa nas piscinas, nos treinos do time, nos jogos; destes maravilhosos
tempos, listo os fatos que me marcaram, assim como marcaram muitos
contemporâneos:
Do Dudu e Bazani molhando as
chuteiras (de couro e duras), fazendo polichinelo e saltando para cabecear uma
bola amarrada num poste tipo forca.
Do eterno e inesquecível
Picolim, olheiro, técnico, protetor e sempre à disposição do time.
Da triste queda em 65.
Do Saturno anunciando os jogos
e do Sandro registrando tudo. Dos cartazes anunciando os jogos, nas paredes do
comércio.
Da “comissão técnica” enxuta:
técnico, preparador físico, Dobrada e roupeiro; do infalível Orlando Luzia.
Do quebra-queixo do Pedrão e
dos canudinhos do Vavá e suas repetidas rimas, das pipocas com Mimosa Ciomínio.
A gente tomava nas garrafinhas que, vazias, as colocávamos nos lixos.
Das arquibancadas de madeira,
do placar Philco, da única torneira abaixo do placar e dos alto-falantes
pendurados em paus de eucaliptos.
Dos jogos com casa cheia nos
diversos paulistas, contra Nápoles, Cruzeiro (todos carecas), Coréia do Sul, da
série Ouro do Brasileiro, dos jogos impecáveis da volta em 66, em especial as
finais no Pacaembu contra o XV, com chuva e choro. Dos treinos e dos eucaliptos
no Campo “de baixo”.
Da inauguração das torres de
iluminação (moderníssimas, na época), e dos Ferrões.
Dos alambrados de trilho e das
buzinadas dos maquinistas da Araraquarense passando em dias de jogos.
Dos modernos vestiários que
cadeiras relaxantes e até reposição de oxigênio tinham. Da carteirinha de sócio
em cartão perfurado (revolucionário).
Da sede no prédio da
Contadoria, que tinha uma locomotiva real na frente (onde foi parar? porque não
reinstalar na Arena?).
Dos temidos exames médicos
para as piscinas, da Sede da Duque de Caxias e da Pensão do São Geraldo.
Das minhas cadeiras cativas,
aí já com meus filhos Gustavo, Frederico e Henrique.
Das entradas em campo do dr.
Nicolino e dos arrasta pés do dr. Genaro Granata!
Do Cônego Storniolo e a
meninada do Domingos Sávio, que entravam e saiam em fila e torciam muito...
E os fanáticos então? Desde as
arquibancadas de madeira!
Colinão, Zé Amaral, Zé Maria,
os Pereira Lima, Aldo Comito, Gama, Dr. Eugênio, Welligton Pinto, Fiori,
Malara, Bruninho Bacurau, Grecão, Fausto – saudoso cunhado, Parelli, Cardilli,
Milton, Hélião Primiano, Valtinho Logati, Família Neves, Manoel Marques, Tabú,
Binho Macaco, Pé, Loco, todos os Scabello, Paulão Squiavon (saudoso amigo que
foi comigo para SP no acesso em 66), Biscoito, Luzia, Alicio, Du, Jair Boca,
Nardão, Ditinho (pai do Tetê), Cicarelli, Binho Vaz, Antero, Biscoito, Roque
Hage, Somensari, Gualhagnonne, Cidinho....muitos outros.
E dos Jogos fora, loucura
total! Cada aventura!
Até na Rua Javari onde me
encontrava com meu cunhado Hercy, outros araraquarenses e o Ignácio de Loyola.
Quantas vezes mudos e solitários
misturados na torcida alheia, sob suspeita, Sorocaba, Campinas, Jundiaí,
Ribeirão, Morumbi, Pacaembu, Lusa, Jaú, Rio Preto, Bauru, Santos...
Quantas vezes saímos correndo
por termos vencido!
O Orgulho das transferências
(venda dos passes) Bazzani, Dudu, do amigo Pio, do Ney, Faustino, Galhardo,
Carrasco, Valdir Chic-Chic....
E do não entendimento da falta de chance para o
Toninho Careca! Da Gazeta Esportiva da segunda feira em letras garrafais:
“QUEM FOI NA FONTE VER
PELÉ...VIU CAPITÃO”
Quem viu, viu!
Texto: Paulo Celso Biasioli
FERROVIÁRIA EM CAMPO: VICENTE HENRIQUE BAROFFALDI E PAULO LUIS MICALI