quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O FIM DE TIÃO DA GALERA NA FERROVIÁRIA


(O goleiro que ficou definitivamente marcado pela torcida da Ferroviária, após atuação em semifinal da Taça de Prata contra o CSA)


Ferroviária 1980 - Vica - Tião da Galera - Samuel - Carlos - Zé Rubens - Nandes e Zé Roberto
  Paulo Borges - Douglas Onça - Volnei - Washington - Bispo e Galdino
(ferroviariadeararaquara.com.br)


Os torcedores mais vividos e experientes na certa jamais esquecerão da passagem do goleiro Tião pela Ferroviária. E jamais o perdoarão pela desclassificação do time de Araraquara, pois o tiveram na conta de “vendido”. 

Tião, que em defesa da AFE passou a ser chamado de Tião da Galera, tomou um gol de bola parada, em chute tido como defensável, e o tento serviu para decretar a desclassificação do time, impedindo-o de chegar à final da Taça de Prata de 1980, competição que equivaleria, hoje, ao Campeonato Brasileiro da Série B.

A revista PLACAR 652, de 19 de novembro de 1982, publicou uma matéria abordando o assunto, nestes termos:


UMA PARCERIA TIÃO E TATRAI

Empresário mexicano vai a Araraquara e mostra interesse no goleiro Tião que, horas depois, enterra o time contra o CSA. Através de PLACAR, descobre-se: o “mexicano” era Janos Tatrai

Na noite de 7 de maio de 1980, momentos antes da partida entre Ferroviária e CSA, pelas semifinais da Taça de Prata, o radialista Wagner Bellini, da Rádio Cultura de Araraquara (SP), entrevistou um empresário mexicano que dizia estar na cidade a fim de levar o goleiro Tião para o exterior.

Wagner Bellini
O tal empresário, que se identificara como “Juan” e falava um espanhol suspeito, andara durante o dia inteiro pela concentração da Ferroviária, segundo ele “para iniciar entendimentos com o jogador”. E quando PLACAR publicou a primeira reportagem sobre a máfia da Loteria, o radialista espantou-se ao ver a fotografia do tal “empresário mexicano” entre os acusados; tratava-se na verdade de Janos Tatrai, húngaro de nascimento e destacado integrante da lista dos 125. Tião, por coincidência, jogara anos antes no CSA. Mas não por coincidência, Flávio Moreira denunciara a PLACAR que neste jogo Janos Tatrai “chegara” em Tião.
Janos Tatrai

Depois da partida, a imprensa de Araraquara não perdoou o estranho gol que o goleiro tomou de bola parada e que deu a vitória ao time alagoano. No dia seguinte, o jornal O Diário abriu uma manchete irônica: “O gol foi na gaveta mas o CSA mereceu a vitória”. E, no final do comentário sobre a partida, o jornal acrescentava com sutil veneno: “Mas Tião é um goleiro vendido. Seu padrinho esteve ontem na cidade para acertar sua transferência para o futebol mexicano, que mal sabe o que terá”.

A torcida da Ferroviária também não aceitou aquele frango e iniciou uma campanha para tirar Tião do time, chamada “Ou ele ou nós”. Com isso, os torcedores deixavam claro que não mais compareceriam ao estádio da Fonte Luminosa enquanto Tião fosse o goleiro do clube. Até porque quando foram procurá-lo depois da partida, ele estava descontraidamente conversando com Tatrai e diretores do CSA.

Os torcedores venceram. Como lembra hoje um diretor, o passe de Tião estava avaliado em Cr$ 2,5 milhões mas foi vendido por apenas Cr$ 500 mil para o Bangu. “O negócio era tirar ele daqui”, afirmou ao repórter João Carlos Rodríguez.


Bangu Anos 80 - Em pé é o lateral Tonho. O segundo é Fernandes. O goleiro é Tião,
seguindo-se Gilson Paulino e Mococa. Agachados: Marinho, Arturzinho,
Fernando Macaé, Mário e Ado. - Que fim Levou?



Fonte: Revista Placar Nº 652, de 19 de novembro de 1982


Pesquisa, texto de abertura, transcrição e edição de Vicente Henrique Baroffaldi e Paulo Luís Micali 

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