Dama |
O Campeonato Paulista de 1985 foi agitado por um
acontecimento palpitante que monopolizou a competição, até que seu desfecho se
desse, consolidando o triunfo de um clube do Interior contra grandes da
Capital.
O Regulamento do Paulistão/85 foi modificado, em
relação ao ano anterior. Todos jogaram contra todos, em dois turnos. O campeão
de cada turno, mais as duas equipes com mais pontos na soma dos dois turnos,
disputaram as semifinais e finais, em dois jogos.
A Portuguesa de Desportos foi a campeã do primeiro
turno; o São Paulo foi campeão do segundo; o Guarani foi quem mais somou pontos
nos dois turnos, 45.
Restava a definição da quarta e última vaga. Aí entra o famoso “Caso Dama”.
Eis como o livro “A História do Campeonato Paulista”,
de Valmir Storti e André Fontenelle descreve o “imbróglio” que envolveu a
Ferroviária e que acabou com uma sua vitória espetacular e surpreendente no
Tribunal:
“A briga maior era entre Ferroviária, Palmeiras e
Corinthians, os dois últimos se beneficiando de uma decisão do Tribunal de
Justiça Desportiva da FPF, que havia tirado um ponto da Ferroviária por
utilizar contra o XV de Piracicaba um jogador supostamente irregular – cumpria
suspensão no campeonato de juniores. Foi o “caso Dama”.
Foto do Acervo Pessoal de Carlos Alberto Gonçalves Pereira, o Caíco |
A disputa começou logo cedo e durou 270 minutos. Pela
manhã, o Corinthians enfrentou, em Ribeirão Preto, o Comercial, que lutava para
evitar o rebaixamento. O que conseguiu, com uma vitória por 1 a 0.
Enquanto a delegação corintiana retornava de ônibus
para São Paulo, o Palmeiras perdia por 3 a 2 para o XV de Jaú, e a Ferroviária
era derrotada pela Portuguesa por 3 a 1, ambos os jogos na capital.
A torcida corintiana pôde, finalmente, comemorar a
classificação entre os quatro semifinalistas. Não por muito tempo, porém.
A semifinal Corinthians x Portuguesa foi marcada para
o Morumbi, mas a Ferroviária conseguiu adiá-la com um recurso ao Superior
Tribunal de Justiça Desportiva, no Rio de Janeiro.
Em mais 90 minutos, dessa vez de julgamento, 11 dias
após o término da fase de classificação, a Ferroviária teve garantido o ponto
do “caso Dama” e sua vaga, por cinco votos a três.
Conseguiu empatar (2 x 2) em Araraquara, mas foi
derrotada pela Portuguesa em São Paulo (2 x 0)...”
A Locomotiva terminou o Paulistão de 1985 em quarto
lugar, tendo em Marcão (16 gols) o terceiro maior artilheiro da competição,
atrás apenas dos são-paulinos Careca (23 gols) e Muller (20 gols).
Foi uma performance extraordinária dos grenás, dentro
e fora do campo. Dentro, mostrando um futebol altamente competitivo e
competente; fora, superando os grandes clubes na disputa em Tribunais
Desportivos.
Ferroviária, em 1987:
|
DAMA (apelido herdado do pai, que atuou no SPFC nos anos
60)
Nome: José Eduardo de Souza
Naturalidade: Brotas (SP)
Data de nascimento: 8 de abril de 1965
Posição: quarto-zagueiro
Clubes: Ferroviária, Corinthians, São José, Rio Branco
(ES) e Catanduva
Atuou na AFE de 1985 a parte de 1987; no Corinthians,
de 1987 a 1990; voltou para a AFE, onde atuou em 1992.
Encerrou a carreira prematuramente, devido a problemas
no joelho e dificuldade em manter o peso.
No Corinthians, foi titular somente durante todo o
Campeonato Paulista de 1989, quando o técnico alvinegro era o ex-jogador do
clube, Palhinha.
Títulos conquistados no Corinthians: Campeonato
Paulista de 1988 e Campeonato Brasileiro de 1990 (o 1º do Timão).
Corinthians do primeiro semestre de 1989. Em pé: Paulo César Santos (prep. físico), Wilson Mano, Marcelo, Dama, Márcio, Dida e Ronaldo. Agachados: Marcos Roberto, Gilberto Costa, Cláudio Adão, Viola e João Paulo |
Celso Dario Unzelte, autor do Almanaque do Timão (Placar),
assim se pronuncia à página 474, a respeito de Dama:
“DAMA
Quarto-zagueiro
(1987/1990)
83 jogos, 3 gols
Foi por causa de José Eduardo de Souza (*Brotas, SP,
8/4/1965), o Dama, que o Corinthians acabou ficando de fora das semifinais do
Campeonato Paulista de 1985. Na época, ele ainda jogava pela Ferroviária de
Araraquara, que, apesar de tê-lo inscrito irregularmente, o colocou em campo em
uma partida contra o próprio Timão (1x2, 28/7/1985). Apesar de ter pedido os
pontos de volta na Justiça, o Corinthians perdeu a causa. E também a vaga nas
Semifinais do Paulista – que, naquela oportunidade, ficou com a Ferroviária.
Dois anos depois, Dama, o estopim daquele rumoroso caso, se mudou para o Parque
São Jorge. Tecnicamente limitado, era reserva nos dois títulos que conquistou
pelo clube. Em 1989, foi titular durante todo o Campeonato Paulista.”
Bom, pode ter sido limitado tecnicamente, mas
permaneceu no grande Corinthians durante quatro temporadas: de 1987 a 1990, e
conquistou dois títulos. Ainda que na condição de reserva. Fez 83 jogos e até
assinalou gols: três.
Dama (2008) |
Fontes:
- A História do Campeonato Paulista, de Valmir Storti
e André Fontenelle;
- Acervo pessoal;
- Que fim levou? (Milton Neves);
- Almanaque do Timão, de Celso Dario Unzelte/Placar, Editora Abril/2000.
Fotos: Que fim Levou? Milton Neves ( UOL)
Texto e
edição: Vicente Henrique Baroffaldi e Paulo Luís Micali
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